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sábado, 12 de novembro de 2011

CRÔNICA
APRENDENDO COM OS PASSARINHOS

Profº Antônio José
O dia acaba de anunciar a sua chegada. Ainda estou deitado na minha rede tijubana sentindo a brisa do mar a invadir o meu corpo inteiro. O silêncio é real até o momento em que ouço o canto de um bem-te-vi. O pássaro gozando de sua liberdade sobrevoa o telhado de minha caverna cantarolando uma melodia agradável aos meus ouvidos. Sei que no seu gesto há o desejo de externar, anunciar uma verdade através de uma linguagem peculiar à passarada.

Fico eu a imaginar: “quem sabe aquele pássaro não está nos ensinando à maneira conveniente de anunciarmos as nossas mensagens sem ser preciso abusar do limite da nossa capacidade sonora”. Sim, é delicioso ouvir o seu canto, a sua melodia, a sua sinfonia. Parece até que aquela ave entende de intensidade sonora, sabe diferenciar agudo do grave, alto do baixo e na frequência ideal canta a sua política quem sabe para incomodar, mas não para perturbar.

Os pássaros são fantásticos, porque não dizer os animais, eles nos ensinam lições que a nossa racionalidade humana não consegue perceber. Os poetas, os cronistas, os artistas, esses percebem, porque enxergam com a sensibilidade e se permitem ser pássaros voadores em terrenos ainda não habitados, desconhecidos.

Ainda estou no meu aconchego, o sol desponta no horizonte, percebo pela fresta da janela do meu quarto. E ele, o bem-te-vi, continua cantando e dançando no ar como alguém que dança repleto de alegria, por gozar de total liberdade. Preciso levantar-me, pois quero apreciar a natureza e contemplar o espetáculo daquele passarinho  cantante. Abro a porta da frente da minha cabana e, de repente, não vejo só um passarinho, mas um casal de bem-te-vis pousando na rede elétrica. Quanto perigo, quanta irracionalidade!

Mesmo diante do iminente risco de vida, aquelas aves representam locutores prudentes, sensatos, capazes de respeitar o direito do silêncio de outrem em qualquer circunstância. O fato é que elas parecem saber ser o respeito um fator crucial para a existência e permanência de boas relações sociais. Enquanto as admiro de meu teto, elas partem em despedida, agora, cantando um pouco mais agudo, porém nada que possa perturbar ou assustar uma criança dormindo, um idoso pensando nos seus tempos de outrora, um escolar fazendo suas atividades domiciliares, uma senhora que acabara de ganhar seu filhinho querido, um enfermo em condição de recuperação ou um adulto assistindo seu programa predileto.

Eles voaram sem medo de ser felizes, conseguiram o que queriam, anunciaram a paz de espírito e denunciaram a poluição sonora que aflige os humanos em lugares onde a lei do silêncio é simplesmente lei de papel. Os vejo desaparecer entre as palhas verdes dos coqueirais, mas sei que o seu voo não foi em vão, porque eles me fizeram perceber que os humanos ainda não aprenderam aquilo que os passarinhos já ensinam.



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